quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Uma odisseia amazônica: mitos fundadores das amazônias do séc. XXI na criação de Clenilson Batista do banda de rock acreana Grupo Capu Texto de Armando Pompermaier Docente de História do IFAC INTRODUÇÃO Foi no decorrer das atividades do Mestrado em Letras na UFAC, cursado entre os anos de 2008 e 2010, pesquisando várias canções de vários autores que revelassem a construção de sentidos da experiência vivida dos sujeitos históricos no contexto econômico e social da passagem do séc. XX para XXI na parte acreana da Região Amazônica, que tive a oportunidade de analisar as músicas do Grupo Capu e entrevistar seu vocalista e compositor mais ativo, Clenilson Batista. Durante a entrevista de aproximadamente quatro horas que Clenilson gentilmente me cedeu, em que o compositor analisava suas próprias composições e relacionava a sua produção musical a vários trechos de sua história de vida, percebi que seria necessário analisar a riqueza de seus relatos a partir da vários referenciais teóricos para chegar próximo ao nível de profundidade do que eu registrava naquele momento. Dentre os vários relatos de Clenilson, destaco neste artigo sua viagem ao Rio de Janeiro, acompanhando sua mãe que estava em tratamento de saúde, como de fundamental importância para entender o processo pelo qual o compositor ia formulando sua visão bastante original de mundo, servindo de base para suas pesquisas na área definida por ele como lendologia, assim como para a composição das canções que eu tinha por objetivo analisar em minha pesquisa. Mais do que descrever pormenorizadamente toda uma cosmologia criada por Clenilson no curto espaço destinado a este artigo, interessa aqui, como parte do esforço para compreender a profundidade do pensamento do compositor, estabelecer relações entre o relato e os referenciais teóricos sobre teoria literária e filosofia da linguagem das obras de três autores: a obra Reflexões sobre o exílio e outros ensaios, de Edward Said, Signos em rotação, de Octávio Paz e Marxismo e filosofia da linguagem, de Mikhail Bakhtin, fazendo ainda breve referência à obra História cultural: entre práticas e representações, de Roger Chartier. Desenvolvimento Paralelamente ao relato sobre sua viagem e estadia no Rio de Janeiro, onde entrou em contato pela primeira vez com os elementos da contracultura no final da década de 1970 e início da década seguinte, Clenilson descrevia de sua teoria sobre a função que a Amazônia, e mais particularmente que a cidade de Rio Branco, desempenharia na Era de Aquário que, baseado nas teorias astrológicas convencionais, que o movimento hippie da década de 1960 afirmava que substituiria a atual Era de Peixes na virada do século XX para o XXI. Segundo Clenilson, o culto à natureza realizado pelo movimento hippie acabava conferindo indiretamente à Amazônia, região do planeta que mais havia preservado tanto a floresta quanto as tradições de suas populações nativas, uma importância central nos novos tempos que viriam, e o autor deu início à construção de toda uma cosmologia amazônica contracultural que tinha por objetivo a realização de uma releitura total e irrestrita do mundo como o conhecemos. Em uma primeira linha de interpretação do que foi relatado por Clenilson em sua entrevista, utilizando como referência as análises que pesquisadores e teóricos acadêmicos relevantes fizeram das obras de grandes autores ocidentais, é possível estabelecer uma relação entre a viagem de Clenilson ao Rio de Janeiro e seu retorno posterior a Rio Branco com suas novas ideias e a discussão realizada por Edward Said sobre a tradição da metáfora da aventura intelectual presente na Civilização Ocidental desde a Odisseia de Homero. Segundo Said a própria identidade da Civilização Grega, que serve de base para a origem da identidade da Civilização Ocidental, é forjada na lendária viagem de ida e volta de Ulisses a Tróia, quando a noção do eu é criada exatamente a partir do confronto com a noção do outro (do não-eu), onde a identidade é não uma simples expressão natural e espontânea, mas uma representação de si mesmo construída na relação estabelecida entre sujeitos históricos de características socioculturais distintas, se constituindo assim mais como o produto de uma síntese dialética. Said continua sua análise sobre a tradição do uso da metáfora da aventura intelectual na criação da identidade cultural da Civilização Ocidental na comparação que realiza entre a obra literária de Conrad e a obra filosófica de Nietzsche, obras estas representativas da cultura europeia da passagem do século XIX para o XX, descrevendo esse processo enquanto uma unidade dialética de impulsos opostos, sintetizados no movimento de afastamento – enquanto busca de novos conhecimentos, metaforizada pelo abandono da terra firme, do lar, do que se convencionou chamar contemporaneamente de “zona de conforto” – e aproximação – enquanto metáfora do retorno à terra firme, ao lar, do retorno à “zona de conforto” –, quando o sujeito que retorna não é mais exatamente o sujeito que partiu, devido à aquisição de novos conhecimentos durante seu percurso. Se inserindo nesta tradição milenar analisada por Said através da qual a Civilização Ocidental criou sua própria identidade cultural, seguindo espontânea e inconscientemente os mesmos passos que já haviam seguido nomes como Homero e Nietzsche, Clenilson Batista tomava consciência da especificidade de sua identidade cultural acreana no momento em que se sentia alheio à identidade cultural do povo carioca e se recusava a se sentir em posição de subalternidade diante do grande centro urbano considerado por muitos como maior referência cultural do país, ganhando apoio para seu posicionamento da filosofia contracultural que fazia apologia tanto à natureza em si quanto a um estilo de vida em harmonia com esta, elementos que haviam em abundância em sua saudosa terra natal, para onde ansiava retornar o mais breve possível. Clenilson utilizava assim os elementos da contracultura para formular sua própria visão de mundo a partir da qual rompia completamente com a lógica através da qual os preconceitos geocêntricos quanto ao norte são formados. Uma segunda linha de interpretação conceitual dos relatos de Clenilson Batista é desenvolvida aqui a partir do estabelecimento de uma relação entre a teoria literária em que o poeta prêmio Nobel de literatura mexicano Octávio Paz reflete que a literatura latino-americana tem um sentimento de orfandade em relação a um período clássico similar ao europeu, pois o homem latino-americano não conseguia encontrar um sentido de continuidade que o identificasse com o período pré-colonial ou com a antiguidade clássica, sentindo consequentemente a necessidade de criar mitos fundadores que muitas vezes acabam recebendo influências tanto do mundo dos povos colonizados quanto do mundo dos povos colonizadores, criando espécies de cosmopolitismos particulares característicos desta literatura. Seguindo esta linha de raciocínio, os relatos de Clenilson Batista se inserem novamente de forma espontânea e inconsciente no interior de um dos princípios criativos mais vigorosos dos consideradamente grandes autores latino-americanos, quando o autor cria um novo mito fundador de uma Amazônia acreana utópica do final do séc. XX, identificando na capital do Estado Rio Branco o ponto de partida através do qual a nova mentalidade da Era de Aquário prefigurada pelo movimento hippie se difundirá para todo o planeta em sua mensagem de paz e amor, uma cosmologia que sintetiza as visões regionais e tradicionais de mundo da Amazônia acreana com as visões universais e modernas de mundo adquiridas na grande metrópole cosmopolita de um dos principais centros econômicos e culturais do Brasil. Ao mesmo tempo, identificando em Clenilson o mesmo tipo de atitude atribuída pela análise se Paz aos principais autores latino-americanos, podemos afirmar que o lendólogo e compositor acreano mais uma vez seguiu intuitivamente passos semelhantes aos comumente percebidos em grandes autores da literatura latino-americana, iniciando o desenvolvimento na área da música acreana de uma reflexão a exemplo do que nomes como Gabriel Garcia Márquez e Pablo Neruda, ou mesmo Mário e Oswald de Andrade, chegando até a proximidades do que propuseram Caetano Veloso e Gilberto Gil com o tropicalismo. Em uma terceira linha de interpretação dos sentidos dos relatos de Clenilson Batista, é possível estabelecer uma relação entre a sua formulação do papel da cidade amazônica de Rio Branco na Era de Aquário professada pelo movimento hippie para o terceiro milênio e a filosofia da linguagem dialógica em que Mikhail Bakhtin defende ser todo discurso, mesmo quando se trata de um monólogo, sempre criado em função de um interlocutor, pelo fato do discurso – assim como a linguagem de forma mais geral – já trazer em sua própria natureza objetivos enunciativos, só sendo possível materializar-se em sua construção mental pelo processo de estabelecimento de interlocutores, mesmo que estes sejam imaginários. Desta forma, o discurso de Clenilson é construído a partir de um dialogismo estabelecido entre o habitante da floresta amazônica e o habitante da metrópole cosmopolita, entre as lendas seringueiras e indígenas e a contracultura vinculada ao rock’n roll, ambas desenvolvendo formas de resistência às convenções sociais dominantes na sociedade capitalista, utilizadas para propor a utopia de uma outra forma de organização econômica, social, política, cultural. Assim, para a construção de uma nova cosmologia que sintetiza os dois mundos paralelos que habitavam o íntimo do músico, Clenilson Batista utiliza seu conhecimento sobre o antropofagismo proposto pelo movimento modernista da década de 1920 e a técnica de escrita através do fluxo de consciência utilizada por Jack Kerouac em seu clássico On the road, assim como referenciais das músicas de Raul Seixas e dos Beatles – só para citar alguns – para falar sobre o imaginário amazônico da Mãe d’Água, do Boto Cor de Rosa, do Mapinguari. Conclusão No caso, o trânsito do sujeito histórico pela diversidade dos espaços físicos, suas práticas e representações, o nascimento de sentimentos de pertencimento a mundos distintos paralelos que passam a habitar seu íntimo, implicando na formação de uma identidade que sintetiza elementos próprios de múltiplas espacialidades, temporalidade, práticas, representações. “Eu sou eus”, frase sempre usada por Clenilson Batista para se definir (ou indefinir), talvez seja a mais representativa do resultado dessa verdadeira odisseia amazônica, em que o compositor lendólogo se lançou à aventura intelectual típica dos personagens de Homero, Conrad e Nietzsche, em meio à experiência dialógica bakhtiniana entre a cultura amazônica brasileira dos povos da floresta e a contracultura norte-americana do movimento hippie, desenvolvendo o que o historiador cultural francês Roger Chartier denomina de luta de representações entre as concepções de mundo do homem da floresta periférica e o do grande centro urbano do país, utilizando o movimento dialético da tese, antítese e síntese de sua própria experiência vivida na ressignificação do passado para formular uma utopia do futuro entre elementos regionais e tradicionais e modernos e universais dos cosmopolitismos particulares de que fala Paz, na tentativa de revolução de sua própria mentalidade pela construção de suas identidades múltiplas, abertas e libertárias. Armando Pompermaier Docente de História do IFAC

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A mais nova composição de Clenilson Batista, CIDADÃO DE BEM ( SE FOR DA LEI ) já gerou algumas polemicas, antes mesmo do seu lançamento oficial, uma veio ao publico atraves do site de noticia www.ac24horas.com e com certeza a musica ainda vai dá muito o que fala. Ouça musica clicando aqui CIDADÃO DE BEM ( SE FOR DA LEI )

quarta-feira, 2 de maio de 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

DVD do Grupo Capú já está pronto!

SERINGAL ASTRAL a primeira música do DVD 30 anos do Grupo Capú que será lançado em breve.
By: Twitter Buttons

quarta-feira, 29 de junho de 2011

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Movimentação no final do ano.

- Silvio Margarido e Marcel estão fazendo um documentário sobre a historia do rock no Acre. Neste sabado gravamos um papo bem descontraído na Concha Acústica do Parque da Maternidade. no dia 23 vamos no loft bar fazer uma apresentação especial para compor esse documento o audivisual.

- A Anne estudante da Ufac também esta fazendo algo parecido, eu e o Clevisson trocamos umas ideias com ela e sua aquipe, na beira do rio Acre. O trabalho será exibido esta semana pela TV Aldeia.
Para os amigos começarem bem o novo ano, ai vai a sugestão; façam uma leitura do meu Livro "A MAIS BELA HISTORIA DO MUNDO". Se gostar, recomendem. Muita paz e amor sempre!





By: Twitter Buttons

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quer tocar no Festival Varadouro 2010? Essa pode ser a sua chance!

Kaline Rossi

Esse ano o Festival Varadouro em parceria com o portal Toque no Brasil e o Circuito Fora do Eixo abre inscrições para todas as bandas que querem participar de um dos maiores festivais de musica autoral da região norte!

É bem simples, você entra no site Toque no Brasil http://toquenobrasil.com.br/eventos/varadouro/ faz seu cadastro, coloca seu release, foto, música, o que quiser e automaticamente estará concorrendo a uma das 7 vagas destinadas às bandas do Acre e 3 para bandas de outros lugares do Brasil.

Legal, né? E você ainda pode conhecer outros festivais que estão com inscrições abertas em outros lugares do Brasil.

Agora é com você: inscreva a sua banda agora e ajude a divulgar!

http://toquenobrasil.com.br/

Acesse nosso site
http://www.festivalvaradouro.art.br/

Segue a gente no twitter @coletivocatraia
http://www.coletivocatraia.blogspot.com